A escassez de água para o consumo das famílias do Interior do Ceará, que já é grave em áreas rurais, agora afeta de forma mais intensa os centros urbanos. No momento, 36 cidades enfrentam racionamento e enormes dificuldades para assegurar o abastecimento. Os açudes secaram e a vazão de poços vem caindo rapidamente. O quadro é mais grave na região dos Inhamuns e nos sertões de Crateús, mas afeta todo o Estado.
Sem chuva, a crise de desabastecimento tende a se agravar. Caso não ocorra pluviometria intensa para a recarga de reservatórios, na atual quadra chuvosa, adutoras emergenciais de engate rápido correm o risco de logo serem desativadas por falta de água. Os sertanejos têm cada vez mais dificuldade de acesso à água e, nas cidades afetadas com racionamento, uma cena é diária: filas de moradores com baldes à espera do líquido.
Conforme a Cagece, 36 cidades enfrentam racionamento de água – Apuiarés, Ararendá, Baixio, Campos Sales, Capistrano, Caridade, Catunda, Coreaú, Crateús, Farias Brito, Graça, Hidrolândia, Ipaumirim, Iracema, Itatira, Jaguaretama, Martinópole, Moraújo, Mucambo, Mulungu, Novo Oriente, Pacoti, Pacujá, Palmácia, Paracuru, Parambu, Pentecoste, Pereiro, Quiterianópolis, São Luís do Curu, Senador Sá, Tamboril, Tejuçuoca, Trairi, Umari e Uruoca.
A situação mais grave ocorre em 13 centros urbanos – Uruoca, Senador Sá, Itatira, São Luís do Curu, Trairi, Palmácia, Catunda, Novo Oriente, Quiterianópolis, Jaguaretama, Crateús, Apuiarés e Tejuçuoca.
Em setembro de 2014, eram 24 cidades em racionamento. Cinco meses depois, é provável que esse número volte a aumentar por causa da perda elevada do nível dos reservatórios. A Bacia Hidrográfica dos Sertões de Crateús é a que está com situação mais grave, acumulando apenas 0,35%.
“Aqui, não temos racionamento, enfrentamos um colapso no sistema de abastecimento”, afirmou o presidente da Câmara de Vereadores de Uruoca, Orlando Lima Fernandes.
Há 60 dias, a Cagece não fornece água tratada para a população de Uruoca, conforme o vereador. Os moradores fazem a captação de água em chafariz em uma praça no Centro da cidade. Há também reservatórios de concreto (manilhas) espalhados pelas ruas que são abastecidos por carros-pipa. O Açude Angico, que abastece quatro cidades – Coreaú, Moraujo, Uruoca e Senador Sá- está com menos de 4%.
Um poço profundo faz o bombeamento para uma caixa elevada no período da noite, e a população retira a água ao longo do dia em baldes, latas e tambores. A alternativa seria a instalação de uma adutora de montagem rápida no Açude Tucunduba, que tem 21% de sua capacidade, na Bacia do Coreaú, e a perfuração de mais poços profundos.
A cidade de Senador Sá, na mesma região, também enfrenta colapso, e a Prefeitura solicitou da Secretaria de Recursos Hídricos a perfuração de dez poços profundos em área urbana.
Em Quiterianópolis e Novo Oriente, a população passa, desde o ano passado, por intenso racionamento de água. Um poço profundo joga água para um reservatório elevado, que atende parcialmente os moradores das áreas baixas. Os açudes Colinas e Flor do Campo secaram, afetando o abastecimento das cidades. A população aguarda uma adutora emergencial.
O chefe de Gabinete da Prefeitura de Pereiro, Dawidson Ribeiro, disse que os moradores da cidade enfrentam, desde dezembro de 2014, um rodízio de dois dias com água e três sem. Para abastecer 44 comunidades da zona rural, nove caminhões estão indo buscar água no Açude Castanhão, em Jaguaribara, distante 130 Km.
Baixio, Umari e Ipaumirim, no centro-oeste, desde o ano passado, sofrem com racionamento. O sistema de captação de água em poços profundos está prestes a exaurir, e uma adutora permanente, que deveria ter sido concluída há mais de um ano, está com obras atrasadas. Além disso, o Açude Jenipapeiro permanece apenas com 0,78%, inviável para atender a demanda das três cidades.
Honório Barbosa
Repórter