regionalOs produtores rurais vivenciam um quadro de preocupação com a escassez de água e de alimentação para o rebanho bovino e ovinocaprino.

As perspectivas não são nada favoráveis para a atual quadra invernosa. Depois de quatro anos seguidos de chuvas irregulares, perda seguida de volume dos açudes, vários reservatórios estão secos. O temor é o agravamento da crise. Estima-se que, sem reserva alimentar e dificuldade de produção de forragem, ocorra neste ano uma redução de até dois terços do rebanho cearense.

O sertão cearense segue no quinto ano seguido de chuvas abaixo da média. As dificuldades de produção agrícola e de manutenção do rebanho se agravam a cada mês. As previsões são de chuvas abaixo da média até maio, quando termina o período invernoso no Estado. Na maior parte das regiões produtoras, não há pastagem natural suficiente para atender a demanda do período. Sem capital, os criadores não têm condições de adquirir ração para os animais.

A situação ainda não é desesperadora, mas é de imensa preocupação. “Muitos criadores estão sem condições de manter o rebanho e o quadro tende a se agravar se for confirmada a previsão de chuvas reduzidas”, disse o chefe do Departamento Técnico da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Jorge Prado. “Com todos esses anos de estiagem a tendência é o produtor vender os animais por falta de água e alimentação”.

Segundo Prado, 70% dos custos de criação estão ligados à alimentação. Sem água, não há como produzir forragem e milho. “A situação está complicada, pois o preço do litro do leite variando entre R$ 0,80 e R$ 1,00 não cobre os custos de produção. O nosso temor é perda do rebanho, da genética”.

Outro agravante apontado pelos produtores e lideranças do setor é a escassez de mão-de-obra no campo. “Os jovens não querem mais ir para roça, ficam aproveitando recursos do bolsa família e aposentadorias de pais e avós”, afirma Prado. “Quem quer produzir não encontra condições e apoio”. As lideranças rurais apontam que a agricultura de sequeiro (que depende exclusivamente de chuva) está inviável. O primeiro plantio feito na segunda quinzena de janeiro, quando houve boas chuvas, está perdido por causa do intenso veranico que castigou o sertão cearense no decorrer de todo o mês de fevereiro.

“Em agricultura de subsistência não há que se falar mais, pois a lavoura está perdida e quase ninguém quer fazer uma segunda plantação”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva.

A situação tornou-se complicada para a agricultura familiar e para os médios e grandes produtores rurais que não encontram água e meios de manter a produção, principalmente, no decorrer do segundo semestre. Qual a saída? Técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e da Faec têm apontado a necessidade de estratégia de reserva alimentar. Uma saída apontada por todos é o plantio da palma forrageira.

“A maioria dos criadores resiste em fazer o cultivo da palma, que tem valor energético quase igual ao milho, e implantar novas tecnologias”, lamenta Prado. “Essa resistência aliada à crise hídrica agrava a situação da pecuária”. O esforço da Faec e da SDA persiste. “É preciso investir em segurança alimentar para os animais”, ressalta o coordenador da Cadeia Produtiva da Pecuária da SDA, Márcio Peixoto. “O governo está fazendo seu papel incentivando e apoiando o cultivo da palma forrageira”. De acordo com números da SDA de 2007 para cá foram distribuídas 40 milhões de raquetes de palma forrageira. Para a safra 2015/2016, foram oito milhões de mudas. “É uma cactácea adaptada ao Semiárido, que pode substituir o milho, precisa de pouca água, e não exige grandes altitudes como se pensava no passado, pois isso é um mito”.

Modelo

Até bem pouco tempo, não se valorizava a palma, que somente era cultivada em solos ruins. “Hoje está em ascensão”, assegura Peixoto. “Estamos com tecnologia de multiplicação das raquetes e somos modelo para outros estados da região nordestina que têm mais tradição no cultivo da cactácea”. Uma raquete é fracionada em 12 pedaços e cultivada em um canteiro sombreado. Depois de 90 dias, o broto é levado ao campo. Na semana passada, um grupo de produtores da região Centro-Sul do Ceará visitou área modelo de produção no Tabuleiro de Russas. Segundo os técnicos, a palma forrageira apresenta menor custo de produção em relação ao milho e à aquisição de farelo de soja. “É a saída para nossa região”, frisa Peixoto.

O coordenador do programa na região Centro-Sul, Mauro Nogueira, da Ematerce, disse que, no passado, a facilidade de água e de cultivo do milho afastou os criadores da experiência com a palma. “Por aqui são poucos. Ainda há resistência. Não há outra solução, esse é o caminho”.

A meta do Estado, por meio de convênio com o Ministério da Integração Nacional, é de cultivar 30 mil hectares de palma forrageira até 2018. O programa começou em 2015 e 20% da meta já foram alcançados. No Ceará, somente três produtores em Tauá, Russas e Madalena são registrados pelo Ministério da Agricultura para venderem mudas à SDA e produtores. Leia sobre experiências com o

cactáceo abaixo.

Entrevista

Camilo Vidal – Presidente do Sindicato Rural de Quixeramobim

Qual a situação da pecuária no Ceará?

É de imensa preocupação, em particular da pecuária leiteira. Há vários anos que vem existindo uma

desvalorização do preço do leite, enquanto que os insumos aumentam com regularidade. Para se ter

uma ideia, em 1995, o preço do litro de leite era R$ 0,26 e hoje é de R$ 0,90, enquanto que o litro do óleo diesel custava R$ 0,19 e hoje é R$ 3,20. Está ficando inviável criar animais de corte e de leite no Ceará.

Se a previsão da Funceme for mantida para a atual quadra chuvosa, qual o cenário do setor?

O sentimento de preocupação vai se tornar desespero. O rebanho será reduzido para um terço. Se não houver chuva para recarga dos açudes que já estão secos não haverá como produzir alimento e matar a sede dos animais. Então, a saída será a venda dos animais, a redução do rebanho.

O setor da pequena e média agroindústria é afetado?

Sim. Os produtores não têm como pagar as dívidas dos empréstimos rurais de investimento e custeio. A lei atual não favorece a renegociação e esses débitos serão executados. É preciso uma mudança na lei. Veja que Quixeramobim tem capacidade instalada para produzir 60 mil litros de leite por dia, mas só produz cerca de 10 mil.

Saiba mais

Números

Ano 2014:

Bovinos – 2.610.702

Ovinos – 2.528.821

Caprinos – 1.062.915

Ano 2015:

Bovinos – 2.542.081

Ovinos – 2.701.737

Caprinos – 1.153.970

Fonte: Adagri

Mais informações:

Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) – Cadeia Produtiva da Pecuária: (85)3101.8084

Federação da Agricultura no Estado do Ceará: (85)3535.8017

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/ceara-pode-perder-maioria-do-seu-rebanho-1.1514848

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