O volume acumulado das reservas hídricas do Estado é de apenas 19,6%, o menor dos últimos cinco anos.
Desde 2012 que janeiro registra reduzidas chuvas, bem abaixo da média histórica que é de 98.7 mm no Ceará. Neste ano, a situação foi crítica em comparação com períodos anteriores. Choveu em média 32.6 mm, resultando em um desvio negativo de 66.9%. Apesar de ser um mês que a meteorologia classifica como pré-estação chuvosa, a pouca pluviosidade contribuiu para agravar a dificuldade de abastecimento de água no Interior.
A crise causada pela estiagem no Ceará chegou a tal ponto que o governo deve priorizar, neste ano, o uso da água para o abastecimento humano e animal, reduzindo ou fechando a liberação para outros fins. Não é para menos. O volume acumulado das reservas hídricas do Estado é de apenas 19.6%, o menor dos últimos cinco anos. E o ano começou com mau presságio. Em janeiro, choveu menos do que nos últimos quatro anos. Até agora, os açudes só perderam água e a terra permanece completamente seca, imprestável para o plantio e para brotar o pasto nativo.
Recorde
De acordo com dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), desde 2012 que em janeiro vem chovendo abaixo da média. Neste ano, o mês bateu o recorde, ficando 66.9% abaixo da média para o período. Em 2014 foram registrados 46.6 mm (menos 52.8%); em 2013, foram observados 37.6 mm (menos 61.9%); e em 2012, 54 mm (menos 45.3%). O mês de janeiro de 2011 quebrou a série de chuvas abaixo da média, pois foram registrados 212.9 mm, em média, no Estado, ocorrendo, portanto, um desvio positivo de 115.7%.
Os dados mostram que, nos últimos cinco anos, apenas um obteve registro acima da média, já no distante janeiro de 2011. De lá para cá, os índices pluviométricos ficaram reduzidos e o Estado enfrenta três anos seguidos de estiagem com fortes indicadores de chegar a quatro, pois a previsão da Funceme divulgada recentemente revelou que há 64% de probabilidade de chuvas abaixo da média em fevereiro, março e abril.
Região Norte
Por região, as chuvas foram mal distribuídas mantendo característica de período de estiagem. Os dados da Funceme indicam que das oito macrorregiões do Estado, o Litoral Norte foi o que apresentou menor índice de chuva em janeiro passado: 14.8 mm, ou seja, menos 86.7% da média histórica para a região que é de 111 mm. Em seguida veio a Ibiapaba com registro de 23.4 mm, representando um desvio negativo de 78.4%. A média naquela área é de 108.5 mm.
Cariri
Na Região do Cariri, onde costuma chover bem, mesmo em período de pré-estação, foram registrados, no primeiro mês deste ano, apenas 38.4 mm, isto é, houve um desvio negativo de 74.1%, pois a média da região é de 148.3 mm. A região mais favorecida no Ceará, no mês passado, foi o Litoral de Fortaleza, com 87.2 mm de chuvas registrados em média.
Mesmo assim, houve um desvio negativo de apenas 10.4%. “Foram as chuvas que caíram no começo do mês passado”, lembrou o meteorologista da Funceme, Leandro Valente.
No Sertão Central/Inhamuns, em janeiro passado, choveu menos 68.6% do que o esperado para o período que era de 88.1 mm. No Litoral de Pecém houve desvio negativo de 60.2% e na região Jaguaribana choveu menos 58.7%. No Maciço de Baturité, foi registrado desvio negativo de 36.5%.
O meteorologista da Funceme, Leandro Valente, disse que na última semana houve um leve aquecimento das águas superficiais do Oceano Atlântico Sul Tropical, que contribuiu para que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema causador de chuvas no Ceará, oscilasse para o Sul em direção à Linha do Equador.
“Esse é um dado que será avaliado no fim desta semana para observarmos se essa tendência se mantém”, explicou Valente. “A ZCIT permanece onde as águas ficam mais aquecidas”.
Melhor
A ZCIT é uma imensa massa de nuvens de chuva que oscila nas proximidades da Linha do Equador. Quanto mais próxima ela estiver do Norte do Nordeste, melhor para o Ceará. “O sistema está descendo aos poucos”, frisou Valente. Além da zona de convergência, o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) e sistemas frontais vindos do Sudeste do País podem ocasionar chuvas nesse período do ano no Estado.
“Toc, toc, toc na madeira” ou reza aos céus para que afaste do Ceará mais um ano de estiagem. Alguns lembram e temem repetição da seca de 1915, flagelo que há exatos 100 anos dizimou e expulsou milhares de cearenses. É o caso do agricultor, Pedro Gomes, do sítio Malhada Vermelha, em Icó.
Estatísticas
“O meu temor é que esse ano será seco. É um 15 (1915) que vai se repetir”, disse. Outros preferem não querer saber de estatísticas, comparações e nem de previsões dos meteorologistas.
“Vamos ter boas chuvas, vai demorar, mas vai chegar a partir de março”, disse o agricultor e pescador aposentado, Raimundo Leandro da Silva, da localidade de Lima Campos.
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