“O aquecimento global é inequívoco e não pode ser atribuído ao sol, aos vulcões nem a outras manifestações naturais e sim ao homem”, destacou o especialista em mudanças climáticas e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Alexandre Araújo Costa.

Ele foi um dos palestrantes na abertura do I workshop de Sistema de Validação de Focos de Calor e de Resposta às Queimadas e Incêndios Florestais, que começou ontem e segue até a próxima sexta-feira, no auditório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), idealizador do evento que tem o apoio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam).

Para o especialista, a crise hídrica enfrentada atualmente, inclusive por São Paulo, se explica de forma simples. “Alguma coisa junta as alterações climáticas profundas pelas quais estamos passando em todo o mundo com uma política de recursos hídricos indesejada. Com um casamento sombrio desses, não poderíamos ter algo diferente do que estamos vendo. O mais preocupante é que isso é apenas um bebê que surgiu. A situação deve se agravar bem mais ainda no futuro, caso algo não seja feito”.

Alexandre Araújo corrobora com a Síntese do 5º Relatório Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no último domingo, em Copenhague, na Dinamarca. O documento apregoa, dentre outras coisas, que, se não houver ação imediata das nações para frear o aquecimento global, logo não haverá muito o que fazer.

O documento, feito com a participação de mais de 800 cientistas de 80 países, mostra que a emissão de gases de efeito estufa tem aumentado desde a era pré-industrial. E que, de 2000 a 2010, as emissões foram as mais altas da história.

Minimizadas

“A ciência está fazendo a parte dela, mostrando o que está acontecendo a todo instante. O problema é que os governos, pressionados pelas grandes corporações, não tomam as providências necessárias”, conta Alexandre. Segundo ele, ao contrário do que propagam aqueles que preferem desconsiderar os relatórios do IPCC, suas conclusões podem ser consideradas conservadoras, moderadas e até cautelosas, pois, não podemos esquecer, que é a Organização das Nações Unidas (ONU) que é responsável por torná-las públicas e, quase sempre, as projeções são minimizadas. Mesmo assim, quando não acertam, a realidade se mostra mais sombria”.

No entender do especialista, “não existe catastrofismo nas informações repassadas. É preciso que se tome alguma providência como, por exemplo, limitar o uso de combustíveis fósseis”. Embora ressaltando que é a Funceme quem deve se manifestar em relação às condições meteorológicas, Alexandre Araújo é pessimista em relação ao ano que se aproxima. “Posso dizer que, se as condições dos oceanos continuarem como estão, entraremos no quarto ano de seca. Há décadas os cientistas estão apontando as mudanças climáticas. Os exemplos são inúmeros, de secas extremas ou de enchentes”, aponta.

Caatinga

A gerente de Meio Ambiente da Funceme, Margarete Sílvia, discorreu sobre a degradação do bioma Caatinga, um dos seis que existem no País e o único exclusivamente brasileiro. “A Caatinga ocupa uma área de 10% do território nacional, abriga 27 milhões de habitantes, 15% da população brasileira. Nada menos do que 45,39% dessa área se encontra em processo de degradação ocasionado pelo desmatamento, consumo de lenha nativa e sobrepastoreio, dentre outros. Por conta da sua fragilidade natural, é o bioma mais afetado pelas mudanças climáticas”.

Margarete ressalta que o antropismo, intervenção humana, é o principal responsável pela degradação. “A natureza é um tanto cruel com o Semiárido. As chuvas caem de fevereiro a maio, quando acontece o inverno. No restante do ano, época em que o agricultor prepara o plantio, é o período mais propício para o aparecimento de incêndios. “As previsões do IPCC para o Semiárido são pessimistas para todos os biomas, a continuar a realidade atual. No caso da nossa região, a tendência é de que ela passe de semiárida para a condição de árida”.

Desertificação

Outra questão abordada pela representante da Funceme foi a da desertificação. “Nada menos do que 41% das terras do Planeta sofrem com o processo de desertificação. É onde estão abrigadas 35% da população mundial. Nessas terras se planta 22% de tudo que o mundo produz. A consequência desse tipo de degradação extrema é a perda da biodiversidade e secas cada vez mais severas”. No Ceará, 10% das terras estão susceptíveis à desertificação. “É um dado preocupante. No município de Jaguaribe, 1/4 da área é suscetível à desertificação. Isso tem que ser combatido com o uso sustentável da Caatinga. Nos Inhamuns, por exemplo, 93% do bioma foi degradado pela agropecuária. A degradação atinge até mesmo as nascentes de rios como o Jaguaribe e o Poti”, denuncia.

A Funceme, segundo Margarete, está realizando um levantamento sobre terras degradadas e desertificadas em todo o Semiárido para descobrir onde são maiores a incidência de secas e as vulnerabilidades ambientais.

Incêndios

Informações da base de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) demonstram que até 23 de outubro de 2014 foram registrado por meio do satélite de referência Aqua UMD, 804 focos de calor no Estado. Considerando as tendências de anos anteriores e as condições meteorológicas vigentes, até o fim do ano, há a probabilidade de registro de mais de 2.500 novos focos.

O I workshop de Sistema de Validação de Focos de Calor e de Resposta às Queimadas e Incêndios Florestais prossegue hoje com o tema Validação de Monitoramento de Focos de Calor de Queimadas e Incêndios Florestais na Caatinga.

Mais informações
I Workshop
Período: de 3 a 7 de novembro
Local: Auditório do Ibama/CE
Endereço: Avenida Visconde do Rio Branco, 3900 – Fortaleza-CE

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/mudancas-climaticas-e-acao-do-ser-humano-afetam-caatinga-1.1141955

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