Cem anos após a seca de 1915, sertanejos temem que este ano o período de estiagem seja ainda mais assolador.

Situacao-atual-dos-acudes-do-cearaO agricultor José Alderício acredita que se a seca se repete é porque o “homem maltratou a natureza”

Eu não sei que ciência é essa que 100 anos se passam e continua acontecendo: a gente tá passando essa seca como a de (19)15”, afirma o agricultor de Várzea Alegre César Pedro, 32. O agricultor faz referência à história contada ao longo de gerações sobre a estiagem documentada no Ceará entre 1914 e 1916. César cresceu ouvindo sobre o gado morrendo, os torrões na terra enervando o chão, o verde sendo esquecido e a água virando só esperança. “A gente não acreditava, mas lembro de ouvir criança que isso aconteceu”. O medo é que neste ano, os efeitos da seca sejam ainda mais assoladores.

Para o historiador e professor do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará, Frederico de Castro Neves, a seca daquele ano ficou marcada no imaginário popular, apesar de não haver registros de ter sido a maior até então, nem de o Estado ter sido tão castigado posteriormente por outros períodos de estiagem.

A Capital vivia naquele período um crescimento econômico grande, com o Centro organizado, e, por conta da seca, havia um campo de concentração (que reunia os que chegavam do Interior pela linha do trem) com oito, dez mil pessoas. Isso gerou um impacto por se contrapor à prosperidade que Fortaleza vivia”, conta o historiador, apontando ainda o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, como elemento perpetuador da seca de 15 na memória sertaneja.

Tanto que o assunto também povoa a prosa na casa de seu Erisvan Fausto Silva, 45, pescador, que diz que o pai, seu Manoel Joaquim, não soube em seus 75 anos de período mais seco. Para o agricultor de Quixelô, José Alderício, 43, a data fechada é lenda da infância e mesmo, “pedindo a Deus que abril seja generoso”, se em 100 anos a situação se repete, a culpa só pode ser do homem. “O homem maltratou a natureza, fez muito estrago, e agora a gente tá pagando”.

(Domitila Andrade)

http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2015/04/14/noticiasjornalcotidiano,3422295/no-centenario-da-seca-de-1915-sertanejo-teme-por-este-ano.shtml

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *