A ANA destaca que a seca foi severa no Semiárido, com situação crítica nos Inhamuns e Sertão Central do Ceará.
Para celebrar o Dia Mundial da Água, neste domingo, a Agência Nacional de Águas (ANA) lançou, na última sexta-feira, encarte especial sobre a crise hídrica, que acompanha o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos – Informe 2014. O documento salienta a grande quantidade de municípios no Nordeste com baixa garantia hídrica. “No triênio 2012 a 2014, destaca-se a situação extremamente crítica no Semiárido, onde foram observadas secas com tempos médios de recorrência superiores a 100 anos, em 2012 e 2013, sendo que em 2014 houve chuvas com frequência normal, mas abaixo da média”.
Segundo o encarte, “a seca foi particularmente severa no Sertão, com situação crítica no Sertão dos Inhamuns e Central do Ceará, classificados como extremamente secos, em comparação com a série histórica. No triênio da seca no Nordeste, o primeiro ano foi crítico em termos climáticos, ocasionando situações dramáticas, com mananciais e estoques sendo deplecionados (descarregados) acentuadamente, seguido de dois anos com pouca precipitação, caracterizados como anos secos”.
Em termos de reserva hídrica, o documento ressalta que “nesses três anos, tem ocorrido o uso compulsório dos estoques de água sem que tenha havido chuva capaz de amenizar ou promover qualquer recarga nos açudes do Semiárido, estratégicos para a população da região. O nível dos reservatórios do Nordeste caíram de 61,7%, em maio de 2012, para 25,3%, em março deste ano. As ações de regulação no Nordeste neste período variaram da redução da vazão de defluência (sucessão) de água dos reservatórios até a fixação de dias alternados para captação de água em rios e açudes ou mesmo a suspensão temporária dos usos”.
Na mesma data, a ANA lançou o site da Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil. Segundo seus idealizadores, “o objetivo da página é apresentar as informações mais atuais sobre diversos aspectos do setor de recursos hídricos, consolidadas pela ANA, de forma simples e objetiva. No portal, há informações sobre seis grandes temas: quantidade de água, qualidade, usos do recurso, balanço hídrico, eventos críticos (secas e cheias) e gestão”.
Sem renovação
O professor de Hidrologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) Rogério Campos, que é doutor em Recursos Hídricos, lembra que, pela característica climática da nossa região, há pouca renovação das águas dos reservatórios. O especialista enfatiza que, há praticamente quatro anos, a água acumulada não sangra nos açudes. “Além desse fator, aqueles mananciais, que têm fontes poluidoras no seu entorno, se tornam mais vulneráveis do ponto de vista da qualidade da água. Quando os açudes só acumulam, ou seja, não sofrem renovação, a tendência é que exista uma concentração maior de poluentes”, explica.
Mudança
Dentre as medidas que poderiam ser adotadas para minimizar esse problema, o professor Rogério Campos sugere uma mudança de atitude. “Seria muito importante que as válvulas de fundo fossem abertas nos período de sangria para liberar as águas mais profundas, permitindo, assim, a sua renovação. Acontece que ocorre o contrário. Quando os açudes enchem, a válvulas de fundo permanecem fechadas. Com isso, a água mais profunda continua lá e a nova, fruto da recarga ocasionada pelas chuvas, vai embora pelo sangradouro”. Embora não entre nessa questão de forma direta, como faz questão de ressaltar o especialista, a evaporação, de certa forma, contribui também para tornar precária a qualidade da água, “à medida que, quanto maior a evaporação, mais os poluentes se concentram”.
Para o professor Rogério Campos, é preciso combater as fontes poluidoras que assolam nossos açudes. “Isso precisa ser feito imediatamente. Não se pode admitir que o pouco de água que temos sofra esse processo de poluição. Devemos, além de tratar os esgotos, punir quem estiver poluindo”, completa.
Conjuntura
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para uma situação preocupante no Planeta em relação aos recursos hídricos. Segundo a OMS, sete pessoas morrem por minuto no mundo por ingerir água insalubre. Nada menos que 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada no Planeta, de acordo com OMS e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A falta de saneamento, que acaba poluindo os mananciais, é outra questão preocupante. A OMS e a Unicef apontam que 2,5 bilhões de pessoas vivem sem saneamento básico adequado no mundo. O que é contraditório nessa história é que cada R$ 1,00 investido em saneamento básico representa R$ 4,00 de economia gastos com a saúde, conforme cálculo da OMS.
Fernando Maia
Repórter