Março começou desolador assim como foi todo o mês de fevereiro: com poucas chuvas. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), entre as 7h de segunda-feira e 7h de ontem, apenas seis dos 184 municípios cearenses tiveram precipitações. O maior volume pluviométrico foi registrado na cidade de Uruoca, no Litoral Norte, com 10mm.
Sem chuva, a situação nos reservatórios do Estado piora dia após dia. Segundo dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o índice atual é de apenas 12,5%, o que representa somente 2.348hm3 na soma total dos 153 reservatórios monitorados pela Companhia.
O Castanhão, maior do Ceará e principal abastecedor da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), está com apenas 9% da capacidade, se comprovado o quinto ano seguido de estiagem, o açude pode atingir, pela primeira vez, seu nível morto já no segundo semestre deste ano.
Em meio ao agravamento da crise hídrica no Estado, o Ministério da Integração Nacional (MI) anunciou, para o mês de junho, a entrada das águas do Rio São Francisco no Ceará, pela barragem de Jati, no cariri cearense. Apesar do atraso, uma vez que a previsão inicial era para o segundo semestre do ano passado, o anúncio gera expectativa nos sertanejos. Eles anseiam que as águas do “Velho Chico” possam amenizar o sofrimento causado pela estiagem.
Segundo o Ministério, já foram acionados os motores de três Estações de Bombeamento (EB) do projeto: EBV-1 e EBV-2, em Floresta (PE), no Eixo Leste; e a EBI-1, em Cabrobó (PE), no Eixo Norte. Os dois eixos do projeto, quando concluídos, possibilitarão captar a água do Rio São Francisco, que percorrerá os 477Km de canais para abastecer adutoras e ramais que irão perenizar rios e açudes.
Atualmente, 10.111 profissionais atuam na obra, em três turnos de oito horas, e 3.860 equipamentos estão em operação. Segundo dados de janeiro de 2016 do MI, o Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) apresenta 83,4% de avanço físico nos dois eixos, sendo 81,6% no Leste e 84,7% no Norte.
No Ceará, as obras fazem parte de duas etapas do empreendimento: Metas 2N e 3N. A Meta 2N registra 73,7% de execução física e está localizada nos municípios cearenses de Penaforte, Brejo Santo, Jati e Mauriti. Já a Meta 3N apresenta 91,9% de conclusão e passa por Mauriti e Barro, no Ceará; e em Monte Horebe, São José de Piranhas e Cajazeiras, na Paraíba.
Visita da CNBB
Uma comitiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) composta por oito bispos e outros 100 membros da Igreja, visita os trechos em obras e barragens, que receberão as águas do Pisf. Os religiosos visitaram o trecho Jucurutu; a barragem Oiticica e a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, localizada no Rio Piranhas-Açu.
Esta última barragem abastece 34 núcleos urbanos em 33 municípios e beneficia cerca de 500 mil pessoas. O investimento nos projetos é de R$ 22 mi. Já o valor estimado para recuperação dessas 24 barragens é da ordem de R$ 370 mi.
Dom Antônio Carlos Cruz Santos, bispo de Caicó (RN), fez parte da caravana. Na tarde de ontem, esteve em Jati (CE). “Estamos cientes, agora, da grandiosidade dessa obra, e que as pessoas não conhecem como deveriam”, disse. Uma das preocupações dos bispos está relacionada às indenizações de moradores na área de Oiticica. Outra diz respeito ao andamento da obra.