Com três anos seguidos de seca, as águas baixam e revelam as ruínas da cidade FOTO: RAFAEL CRISÓSTOMO

A vida dos moradores da velha Jaguaribara, inundada há mais de 12 anos para dar lugar ao Açude Castanhão, será retratada em documentário, dirigido pelo jornalista cearense Lucas Dantas, como projeto de conclusão de especialização em documentário pela escola de cinema norte-americana New York Film Academy.

O primeiro corte, que terá 20 minutos, será lançado em dezembro deste ano. Intitulado “Jaguaribara: a lenda submersa”, o roteiro do documentário pretende mostrar as consequências da retirada dos moradores da antiga cidade para uma nova, totalmente planejada e as mudanças no modo de vida, fazendo um paralelo do presente com as lembranças do passado.

A familiaridade do jornalista com o tema se dá pelo fato de que seus pais possuem raízes na antiga cidade de Jaguaribara. “Resolvi fazer uma história que eu me interesso desde muito tempo. Desde que nasci já se falava que ia ser construído o Castanhão e eu acompanhei também essa mudança, um pouco de longe porque na época eu morava em Fortaleza. Então eu achei que esse fosse um bom momento para chegar e contar a história dessa mudança, da nova e a velha cidade”, explica.

O documentário começou a ser produzido em maio, com pesquisas, entrevistas e a busca de personagens. As gravações iniciaram em agosto e irá até o final e setembro. Após esses dois meses entra na fase de pós-produção, que deverá ir até dezembro quando o primeiro corte de 20 minutos será lançado.

Para financiar o projeto Lucas conta que a Academia entrou com o suporte técnico, custeando o aluguel de todos os equipamento. O restante. Diz que foi por conta própria. “Nossa proposta foi fazer uma produção a baixo custo. Essa vai custar em torno de R$ 3 mil. É muito barato se for comparada com outras produções. Devo isso graças às inúmeras parcerias que se empolgaram com o projeto e estão apoiando de alguma forma”, acrescentou.

Entre os colaboradores que estão trabalhando diretamente no processo de produção está a professora de Lucas e editora de fotografia Eliana Álvares, e Victor Rasga, que trabalha na parte de som. As gravações contam com diversos cenários, desde a moradias e modos de vida atuais de alguns dos personagens, até uma expedição às ruínas da antiga cidade, possível em decorrência dos três anos de seca que assola o Estado.

As imagens subaquáticas contou com o apoio de um mergulhador. Sobre o que será mostrado, o jornalista adianta que haverá personagens que se deram bem na vida após a mudança de cidade, mas também haverá aqueles que ainda lembram com nostalgia como era a vida de antes e sentem falta.

“Independentemente de como estejam esses personagens hoje, se bem ou não tão bem, todos se emocionaram quando mostramos fotos e vídeos da antiga cidade. É um sentimento que não vai acabar”, ressalta.

Entre os personagens, Lucas destaca “As três coroas”. É assim que são assim conhecida as irmãs Francisca, Divalcir e Rocilda, que possuem idade na casa dos 70 anos e nunca se casaram.

Ele conta que, na mudança, elas optaram por viverem afastadas do Centro da nova cidade e hoje levam uma vida um pouco parecida como a que viviam na velha cidade.

“Uma delas cuida da casa e as outras duas cuidam dos animais, cultivam, nada para vender mas para a própria subsistência. Elas mantém uma vida muito parecida como a de antes. Uma das diferenças e também dificuldades que elas contam é que antes era mais fácil, o rio passava perto da casa delas. Hoje elas andam cerca de 12km para dar água ao gado”, conta.

Além delas, o jornalista diz que terão outros personagens, que se deram bem na vida, que se acostumaram e cresceram.

“O povo de Jaguaribara tem isso de contar histórias muito fortes, por terem vivido todas essas transformações. Cada um tem a sua história sobre aquela época. Então isso faz com que esse projeto se torne muito interessante”, diz o pesquisador.

Lucas também faz uma análise do momento que vive a cidade, principalmente relacionado ao reaparecimento da antiga cidade. “O Castanhão veio com a promessa de água, riqueza e prosperidade e, após 13 anos, quando as pessoas começam a curar as feridas, vem a seca e a cidade reaparece. Então isso, simbolicamente, é muito forte. A nostalgia bate ainda mais forte. É como se as pessoas estivessem perdendo a cidade pela segunda vez”, conclui.

Após o lançamento, o projeto concorrerá a editais. A ideia do jornalista é conseguir patrocínios para transformar a história de Jaguaribara em um filme de longa-metragem.

Hellen Freitas

http://blogs.diariodonordeste.com.br/valedojaguaribe/curiosidade/historia-da-velha-jaguaribara-vira-documentario/

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